terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

100 anos da imigrasão japonesa no Brasil e fizemos um espesial para comemora a data " A CAPACIDADE DE SINTESE"

A capacidade de síntese está no DNA dos japoneses - e a arquitetura constitui um terreno fértil para exercê-la. Afinal, o Japão precisa lidar com uma altíssima densidade demográfica - em seus acidentados 378 mil km2 (equivalente às áreas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina somadas), vivem quase 130 milhões de pessoas (70% da população brasileira). "Isso explica o alto preço do metro quadrado e o reduzido tamanho dos lotes", diz o arquiteto Tetsuro Hori, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo. "Mas as pessoas não vêem isso como problema", ressalva. Como convivem desde sempre com a questão, já incorporaram algumas soluções em seu dia-a-dia: a tradição dos ambientes f lexíveis remonta às milenares casas de aldeia. "Nelas, painéis removíveis já dividiam os cômodos. A configuração mudava durante um casamento ou um funeral, ou qualquer outra ocasião em que se necessitava de mais espaço interno", explica o antropólogo japonês Koichi Mori, professor da Universidade de São Paulo (USP)



86 m²
TÓQUIO


( O poliedro desenhado pelo arquiteto Yasuhiro Yamashita, do Atelier Tekuto, atendeu a ambos os requisitos)







Obter o maior volume possível no terreno de esquina de 45 m2 norteou este projeto,feito para um casal na faixa dos 30 anos que desejava uma casa "única". O poliedro desenhado pelo arquiteto Yasuhiro Yamashita, do Atelier Tekuto, atendeu a ambos os requisitos. Moldada em concreto armado numa estrutura metálica chamada rigid frame (apropriada a locais sujeitos a terremotos), a construção multifacetada tira o peso do espaço pequeno. "Tudo é uma questão de percepção visual", diz o arquiteto.



158 m²
MARUOKA-CHO



(Esta casa-ateliê concilia o espaço residencial e o comercial sob o mesmo teto.)
(A intenção é criar espaços fluidos”, explica o arquiteto.)








Esta casa-ateliê concilia o espaço residencial e o comercial sob o mesmo teto. O escritório ocupa a porção voltada à rua, enquanto os quartos ficam na face dos fundos, mais reservada. Projetada pelo arquiteto Shuhei Endo, conhecido por suas experimentações com estruturas metálicas, a construção emprega um sistema único para uma das paredes externas e a cobertura. "A intenção é criar espaços fluidos", explica o arquiteto. O restante dos fechamentos emprega drywall e madeira.


Apesar de todo o lastro cultural jogando a favor dos espaços pequenos, cidades cada vez mais adensadas desafiam os arquitetos japoneses contemporâneos. Os apartamentos têm, em média, 35 m2. Um terreno de 100 m2 é considerado luxo: "Mesmo problemática, essa situação costuma inspirar a inovação estrutural", analisa a arquiteta americana Naomi Pollock, que vive há 15 anos em Tóquio e escreveu o livro Modern Japanese House (editora Phaidon). "Alguns arquitetos tentam combinar a estrutura e o fechamento em um único sistema [veja o projeto desta página], outros usam materiais de forma inovadora para reduzir a espessura das paredes", afirma. Muitas vezes, o bairro onde se localiza o terreno torna-se um obstáculo ainda maior que sua metragem. "Vários lugares em Tóquio são inacessíveis a caminhões e máquinas grandes. Isso também limita o método construtivo. Já vi bombearem concreto por cima de outra casa porque a rua em frente à obra era estreita demais para uma betoneira", conta Naomi. Por outro lado, a legislação nã é tão rígida no que diz respeito aos recuos laterais, o que permite aproveitamento quase total da largura dos terrenos. De qualquer forma, essas condições ajudam a explicar a preferência por materiais leves, pré-fabricados e de fácil montagem.


76 m²
KOBE



(Quase encostada nos vizinhos, ela está estruturada com barras horizontais pré-fabricadas de concreto reforçadas internamente com cabos de aço e presas umas às outras com varas metálicas.)
(Neste imenso brise, o arquiteto e morador Hiroaki Ohtani encaixou degraus, prateleiras e cabides)




Num lote de 33 m2, com 2,90 m de largura, esta engenhosa casa prova que a multiplicação dos espaços é possível. Quase encostada nos vizinhos, ela está estruturada com barras horizontais pré-fabricadas de concreto reforçadas internamente com cabos de aço e presas umas às outras com varas metálicas. Neste imenso brise, o arquiteto e morador Hiroaki Ohtani encaixou degraus, prateleiras e cabides. A luz entra pelo topo da construção, que tem 7,60 m de altura, pela fachada envidraçada e pelas frestas.



O jeito de usar o sistema construtivo e o efeito que ele exerce sobre o interior da casa também contam, e muito. No projeto acima, a instalação alternada das barras de concreto dá origem a um jogo de luz que parece alargar a casa. "É inconcebível, para nós, um lote de pouco mais de 30 m2. Mas as frestas criam perspectivas, numa estratégia para ampliar o espaço", comenta o arquiteto Jo Takahashi, diretor de arte e cultura da Fundação Japão. Internamente, os projetos exibem outros tantos recursos, como as consagradas portas de correr. "Com uma diferença: lá, elas são removíveis", aponta o arquiteto Ricardo Miura, que viveu um ano no Japão. Em casos extremos, como a casa desta página, onde o arquiteto Hiroaki Ohtani mora com sua filha, as portas nem existem. "Enquanto os ocidentais crêem que isso compromete a privacidade, os japoneses são muito bons em desligar-se de tudo aquilo que não devem ver nem ouvir", pondera Naomi Pollock.

95 m²
NAGOYA







(Quase encostada no limite do lote, também é iluminada graças ao piso do corredor do terceiro andar, uma grelha metálica (acima, à esq.), e à cobertura de vidro. Projeto de Hiroyuki Sugiura.)
(A luz vem principalmente pelas laterais: uma delas, envidraçada, é recuada 1 m em relação ao vizinho)















Localizada numa rua residencial, porém de tráfego intenso, esta casa tem sua fachada principal praticamente sem janelas, montada com folhas de aço fixadas na estrutura de concreto. A luz vem principalmente pelas laterais: uma delas, envidraçada, é recuada 1 m em relação ao vizinho A outra, apesar de quase encostada no limite do lote, também é iluminada graças ao piso do corredor do terceiro andar, uma grelha metálica, e à cobertura de vidro. Projeto de Hiroyuki Sugiura.



Se dentro da casa a questão da privacidade não pesa tanto, a equação muda quando se trata da relação com a rua. Nas situações mais urbanas, muitos arquitetos optam por fachadas cegas ou com poucas aberturas, numa tentativa de preservar o interior. E, normalmente, dedicam o térreo à garagem, já que as ruas estreitas não comportam carros estacionados. Ao mesmo tempo, tratam de buscar algum contato com a natureza, ainda que tênue. "A cultura japonesa sempre valorizou esse aspecto. O clima, com as quatro estações bem definidas, criou no japonês uma sensibilidade de observar as metamorfoses ao longo do ano e de incorporar essas percepções nos campos da arte, inclusive na arquitetura", diz o arquiteto Eiji Hayakawa, do escritório Tadao Ando Architect & Associates. Luz, ventilação natural e pátios internos cumprem esse papel. "São sutis variações, que brindam os moradores com verdadeiros microcosmos de conforto espiritual", fala Eiji.

(FOTE CASA.ABRIL)






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